Iago Gomes nasceu em Ipirá, mora em Feira de Santana há mais
de 7 anos, onde participou de várias atividades políticas e se formou em Letras
na UEFS. Com apenas 25 anos, se lança na construção de uma pré-candidatura
coletiva e diz está disposto a mudar a cara da política. Não abre mão de dizer
quem é: jovem, negro, LGBT e professor. E nem de dizer por qual projeto de
mundo luta: “um mundo sem desigualdades e onde todos tenham os mesmos
direitos!”.
POR QUE DECIDIU SE LANÇAR PRÉ-CANDIDATO?
IAGO: Estamos vivendo um momento complicadíssimo na situação
do país. Após um golpe que acirrou o processo de crise econômica e política,
foi gerado um efeito de confusão e descrédito no futuro político do país por
parte das pessoas. Temos índices de desempregos enormes, aumento da violência
nas cidades e um crescimento na desigualdade, com lucros enormes por parte dos
bancos, e retirada de direitos históricos dos de baixo. Costumo dizer que o
maior partido político no momento não é o PMDB, não é o Bolsonaro, não é o
Lula… O maior partido político no Brasil é o da “Desesperança e do Medo”. Mas o
momento não deve ser encarado somente como um momento de resistência, mas como
um momento de avançarmos a discussão de um outro projeto de sociedade.
Recuperar o espírito das pessoas de acreditar numa mudança. De um futuro onde
nós, a juventude, seja colocada no centro dos debates, onde privilégios sejam
debatidos abertamente e não tenhamos que nos esconder de quem quer seja ou ter
medo de ouvir as pessoas e ser ouvido. Daí avaliamos que uma pré-candidatura
jovem, no estado mais negro do país, é uma forma de avançar contra os poderosos
e questionar esse modelo de sociedade que temos.
COMO ASSIM UMA PRÉ-CANDIDATURA COLETIVA? COMO FUNCIONA ISSO?
IAGO: Temos a construção de programa, de visual, de ideias
com muitas mãos. Somos jovens de várias idades, de 18 anos e de 40, sobretudo,
que estiveram e estão nas ruas em muitos momentos, que vivenciam os problemas
reais das cidades, do dia a dia. Maior parte dos que constroem essa
pré-candidatura são negros, LGBTs, mulheres, estudantes. Sabemos o que queremos
e o que não queremos e não estamos para dividir, mas para unir, agregar e
trazer mais pessoas para uma luta que não se encerrará com o processo
eleitoral. Por isso queremos falar que não é “minha pré-candidatura”, mas
“nossa pré-candidatura”.
O maior partido político no Brasil é o da “Desesperança e do
Medo”.
COMO SE SENTE SENDO UM LGBT DISPUTANDO UM PROCESSO
ELEITORAL, E NEGRO AINDA POR CIMA?
IAGO: Temos LGBT’s eleitos, bem poucos. O Jean é um exemplo
no Congresso Nacional. Também temos avançado muito no número de LGBT’s
disputando eleições e, inclusive para cargos majoritários. Porém, além de ser
pouco o número, precisamos entender que ser LGBT tem que vim alinhado com um
projeto de mundo que seja para todas e todos LGBT’s. Que seja também para todas
as pessoas, inclusive as que não se enquadram nessa categoria e que como nós
também sofrem com problemas de segurança, saúde, educação, cultura, e que
também precisam entender que somos todo mundo aliados nessa batalha. A estrutura
social, política, econômica, inclusive que formaliza nossos partidos, também
não favorece para que sejamos candidatos e que dispute territórios que não são
construídos para ter a gente. Precisamos ter ousadia e muita, mas muita coragem
de colocar a cara no sol num país que mata um LGBT por LGBTfobia a cada 23
horas e que tem como maiores vítimas as pessoas Trans e Travestis. A questão
racial ela amplia a uma potência enorme as dificuldades e obstáculos.
Nós, jovens negros, somos os que mais morrem, que mais
sofrem com a política falida de segurança pública, com o péssimo serviço da
educação e saúde pública, com o desemprego. Fazemos parte de um país onde a
história colonial nos colocou na base de todas as pirâmides, e mesmo 130 anos
após uma falsa abolição, ainda não temos um direito básico garantido: a vida.
COMO COLOCAR A QUESTÃO RACIAL NA CENTRALIDADE DO DEBATE
POLÍTICO?
IAGO: Somos maior parte da população brasileira. Somos mais
de 70% da população baiana. Em compensação somos minoria nos cargos de poder e
minoria contemplada pelos projetos sociais positivos, mas quando se trata de
alvo predileto do Estado, ocupamos a maior porcentagem da população carcerária,
e a maior porcentagem de vítimas de violências no país. Na Bahia hoje temos 16%
de desempregados que atingem majoritariamente jovens e negros, e dentro dessa
categoria, as mulheres negras (mães, irmãs, companheiras, e as que não
estabelecem essas relações) são as bases da estrutura, pois além de dar conta
da família, tem uma escalada enorme nos subempregos, no desemprego e nas
violências urbanas. Colocar a questão racial como centro da política é
revisitar uma história que não se resolveu com uma falsa abolição de 130 anos
para compreender como a estrutura se dá na atualidade. Precisamos apresentar
urgentemente um projeto de segurança pública que não seja o que tá aí, que não
trate vidas como “golaços de artilheiro” e que desenvolva projetos que alterem
de fato a realidade nossa. Recuperar e apontar o lugar de sujeitos decisivos que
somos, que podemos opinar, construir as coisas, ajudar em buscar soluções para
nossos problemas. Se no período de golpe no país, a gente não tem sido colocado
como sujeito de escolhas, sabemos que só nós podemos construir o nosso destino.
COMO VOCÊS PENSAM EM ROMPER ESSAS BARREIRAS?
IAGO: Se sendo LGBT enfrentamos obstáculos e sendo negro
também, sendo jovem e se propondo ao novo é um desafio cerebral rotineiro
(rsrsrsrs). A gente sofre boicote dentro de nossos partidos, fora deles, na
mídia hegemônica nem se fala, mas também nos veículos alternativos. Não mostram
que existe a nossa pré-candidatura e pra isso é preciso buscar ideias e
mecanismos de fazer chegar nossas ideias às pessoas. Veja que estamos falando
de chegar, mesmo que muitas vezes seja apenas uma posição sobre um fato
específico. Daí a gente tem usado muito as redes sociais, mas sem esquecer do
mais importante, que é o cara a cara. Temos organizado rodas de conversas,
reuniões, aparecido em eventos organizados. Temos buscado formas de também
trazer pessoas para a política, e se envolver. Difícil, muito difícil, mas nada
na vida de um jovem LGBT, negro, pobre nunca foi fácil, né?
E SOBRE PROGRAMA… COMO ELE ESTÁ SENDO CONSTRUÍDO? QUAIS SÃO
OS PRINCIPAIS EIXOS?
IAGO: A gente tem debatido ideias de forma coletiva. O eixo
central do marco político é Juventude. Daí já avançamos em ideias para
Segurança, Educação, Mulheres e Diversidade. Em todos queremos recuperar o nós
como centro de decisão. Em segurança, a criação de Fóruns Populares dentro dos
bairros mais violentos nas cidades. Na educação, trazer a comunidade para
dentro dos ambientes, para ajudar na construção de ideias. No eixo de Mulheres,
as mulheres da equipe têm lutado contra muitos obstáculos para ajudar no
programa, e temos que colocar o movimento das mulheres para participar das
decisões e escolas, em Diversidade mesma coisa. Ou seja, falar de Juventude é falar
de tudo isso e do que ainda vamos debater: Cultura, Direito à Cidade, Saúde,
Economia… Temos muito a debater. Não vou citar todas as ideias porque são
muitas, mas vocês podem conferir nas redes e em breve numa plataforma que
estamos tentando construir.
POR FIM, QUAL A CONTRIBUIÇÃO QUE VOCÊ ESPERA DEIXAR A PARTIR
DE SUA PRÉ-CANDIDATURA?
IAGO: Eu espero de fato que seja um mandato de luta e que
funcione como um megafone da juventude baiana (rsrsrsrs). Mas de toda forma,
quero que a mensagem que fique seja: Nós podemos ocupar a política, porque ela
não tem que ser dos engravatados, poderosos e corruptos como têm sido. É
possível colocar trabalhadores, mulheres, LGBTs, negritude para decidir, porque
sabemos mais do que ninguém do que é viver numa sociedade desigual. A gente
pega buzão, a gente anda nas ruas a pé e não em helicópteros, a gente não tem
plano de saúde… A gente sabe o quanto é doloroso acordar cedo e dormir bem
tarde para entregar um trabalho de universidade ou dar conta de duplas e
triplas jornas de trabalho. Temos que mostrar que o que estamos defendendo é
possível!
Conheça mais a Pré-Candidatura Coletiva de Iago acessando a
página no Facebook: https://www.facebook.com/iagogomes.psol/
Fonte Coletivo Juntos
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