O Brasil registrou oficialmente o primeiro caso de contaminação pelo novo coronavírus no final de fevereiro de 2020. No mês de março a Bahia registou o seu primeiro caso importado da doença. De lá pra cá, muitas medidas foram adotadas visando impedir a disseminação do vírus, contudo, hoje o país tem uma das taxas de morte mais elevadas da doença - 268.370. Em fevereiro a covid foi a maior causa de mortes no Brasil e chegamos a triste marca de mais de 1900 mortes por dia. Atualmente na Bahia temos mais de 12.735 e uma média de 1400 novos casos por dia. Um número alto em relação ao início da pandemia.
Bem, já contextualizei em números a situação do Brasil e da Bahia, agora vou de fato ao que interessa. Lembrando que, esse texto não é sobre dados, estatísticas, ou sobre recordes de mortes pela doença, mas sim sobre a realidade de uma parcela da sociedade ainda viva, que sofre em silêncio pelos impactos sociais, psicológicos e econômicos da pandemia que perdura mais de um ano. Aqui relatarei apenas os econômicos. Os efeitos da pandemia vão além da saúde, principalmente para os mais podres, para os invisíveis, para os que ficam as margens da sociedade, para os menos favorecidos, e é sobre eles que irei falar nesse texto.
Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE, no Brasil a informalidade atingiu, em 2020, 3,7 milhões. Dentre esses 3,7 milhões de informais, destacamos os vendedores ambulantes, músicos, motoristas de aplicativos, dentre muitos outros, que pela necessidade das medidas de enfrentamento a covid, ficaram impedidos de trabalhar. São pessoas que tem famílias, tem compromissos, tem contas, tem sonhos. Há um ano que o Governo Federal criou o auxílio emergencial como estratégia de amenizar os impactos econômicos para esses milhões de brasileiros que foram acometidos pela pandemia. Em alguns estados e municípios foram também criados projetos com o mesmo viés econômico. Mas para um pai de família com três filhos, contas a pagar, sem previsão de retomada ao seu único posto de trabalho o valor pago pelo Governo é suficiente? Essa discussão será mais adiante.
Usar a frase ‘’fica em casa’’ e não analisar o contexto, a realidade de milhões de famílias que precisam sair para trabalhar, pois não tem um recurso certo no final de cada mês é até desumano. É covarde. Que pai vai ver o filho sentir fome e não vai atrás do alimento mesmo se colocando em risco? Para esta parcela não existe ‘’fica em casa’’, o ficar em casa é também sentenciar a morte para muitos brasileiros que não tem de onde tirar o que comer.
Em 28 de abril de 2020 a Caixa Econômica Federal pagava a primeira parcela do Auxílio Emergencial, o valor na época era de R$ 600 e até R$ 1.200 para mães solos. Agora em 2021, após forte pressão popular, o Governo anunciou que o Auxílio voltará, porém com reajustes. O auxílio será de R$ 175 a R$ 375 por quatro meses (março a junho). Para famílias dirigidas por mulheres, o valor será de R$ 375; para um casal, R$ 250; e para o homem sozinho, de R$ 175. Segundo especialistas estamos vivendo o pior momento da pandemia, o que tem obrigado diversos estados a impor o lockdown, o que afeta diretamente o principal público beneficiário do auxílio emergencial. Qual pai irá ficar em casa com R$ 175 reais para alimentar uma família? Sabe quanto custa uma cesta básica no Brasil? De acordo com o IBGE e, considerando apenas os alimentos no supermercado o preço médio da cesta básica, nas principais capitais, passou dos R$ 600, de acordo com acompanhamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos - DIEESE. Na Bahia, em janeiro do corrente ano estava em 488.94.
As medidas restritivas, o lockdown nada disso é errado. Infelizmente são necessárias. Cientificamente já foi comprovado que são eficazes na luta contra a covid, porém é necessário que os governantes deem subsídios para que o povo sobreviva e passe por esse momento com dignidade. É fácil para mim, ou talvez para você ‘’ficar em casa’’, financeiramente estamos seguros, mas o seu próximo, o seu vizinho que saia cedo para montar barraca na praia está seguro? Seu conhecido que aos finais de semana tocava naquele barzinho? Neste momento pandêmico mais que a união, mais que a compaixão é necessário termos mais empatia e amor ao próximo.
Em tempos de pandemia, se você pode, fica em casa. Vamos passar por isso juntos.
Mirian Oliveira, jornalista, especialista em MKT e apaixonada pela vida e por cuscuz.
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